Financiado pela União Europeia, no âmbito do Programa EU REC (Rights, Equality and Citizenship), o projeto “Sexism Free Night” permitiu revelar as dinâmicas de violência sexual que emergem em ambientes de lazer noturno e, também, identificar necessidades de intervenção.
O projeto, que envolveu um consórcio multisetorial coordenado pelo Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH) da Faculdade de Educação e Psicologia (FEP) da Universidade Católica Portuguesa no Porto - a única universidade, a nível europeu, inserida no consórcio -, visou a promoção de uma vida noturna inclusiva, segura e variada para todos/as.
Ao longo de mais de dois anos, a implementação do projeto baseou-se numa abordagem multicomponente que incluiu um conjunto sequencial de atividades. A nível europeu, foi divulgado um inquérito online, onde foi possível adquirir um conjunto de novos conhecimentos sobre a prevalência do sexismo e da violência sexual entre os maiores de 18 anos em ambientes de lazer noturno na Europa e as suas interseções com fatores chave específicos. Os dados resultantes foram utilizados no design e implementação de 4 cursos de formação Europeus e 14 cursos de formação implementados em 5 países (Portugal, Espanha, Alemanha, Sérvia e Letónia). No total contou-se com a presença de 281 profissionais do setor do lazer noturno, da organização de festivais e da intervenção com pessoas que consomem drogas nestes espaços. Os cursos e manuais de formação possibilitaram a qualificação e envolvimento destes profissionais na desnormalização do sexismo, obtendo, deste modo, as ferramentas de prevenção e intervenção necessárias no combate à discriminação e violência de género.
“Foi possível o desenvolvimento de ferramentas e linhas orientadoras para a transversalização de género e a maximização da segurança.”
Intervenção na desnormalização do sexismo e na violência de género
Um dos maiores contributos desta investigação, segundo Cristiana Vale Pires, docente na FEP, investigadora no CEDH, cocoordenadora e responsável pela implementação e gestão do projeto, “foi o desenvolvimento de ferramentas e linhas orientadoras para a transversalização de género e a maximização da segurança num contexto que, pela sua matriz hedonista e pela cultura de consumo excessivo de álcool e/ou outras substâncias psicoativas, é propício a dinâmicas de vulnerabilização e agressão sexual”.
Além disso, esta iniciativa contribuiu igualmente para a inovação social em respostas de redução de riscos que trabalham com pessoas que consomem drogas nestes contextos, assim como para o desenvolvimento de redes colaborativas a nível comunitário para a intervenção em situações de crise psicológica relacionadas com as situações de violência de género que podem ocorrer nestes ambientes noturnos.
“A criação de uma rede Europeia com 42 parceiros de 13 países que permitirá dar continuidade à partilha de boas práticas.”
Sexism is a virus
Sob o mote “Sexism is a virus”, o design e o lançamento de uma campanha Europeia foi também possível de se concretizar. Sendo o sexismo um vírus, a campanha de sensibilização convidou as pessoas que frequentam ambientes de lazer noturno e festivais a fazer um teste BCR (Bystander Chain Reaction Test). Dado que frequentemente não agem devido ao receio de violência e outras repercussões, a sensibilização e a corresponsabilização de bystanders (espetadores/as) na desnormalização do sexismo e na deteção e interrupção de violência sexualizada nestes ambientes identificam-se como os objetivos primários desta campanha.
Esta iniciativa levou ainda a cabo atividades como a criação de uma rede Europeia com 42 parceiros de 13 países que permitirá dar continuidade à partilha de boas práticas iniciadas pelo projeto, bem como a produção de white papers que pretendem apoiar profissionais a intervir com práticas responsivas ao género em contexto de lazer noturno.
Por um futuro onde se abrace uma vida noturna igualitária
De acordo com Cristiana Vale Pires, o projeto teve como propósito primordial “investigar, capacitar e sensibilizar atores/atrizes-chave específicos/as para o desenvolvimento de perspetivas de género sobre o consumo de drogas e para a promoção de ambientes de lazer noturno mais responsivos à diversidade, seguros e igualitários.”
A redução da violência sexual e do sexismo, a promoção da tolerância e da inclusão em ambientes de lazer noturno, a disseminação de conhecimento sobre violência sexual e a orientação das melhores práticas no sentido de combater o sexismo e outros tipos de discriminação nestes espaços foram os objetivos centrais deste projeto europeu. Mais informações sobre este projeto disponíveis aqui.