O início de um novo ano é sempre um convite à renovação, à descoberta e à reflexão. E, neste processo, os livros desempenham um papel crucial. Para inspirar a nossa comunidade académica, desafiámos três docentes da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa (FEP-UCP) a partilharem as suas sugestões literárias. O resultado? Três obras que prometem levar-nos por viagens transformadoras em 2025 – seja pelos caminhos da memória, da liberdade ou do autoconhecimento.
“A Vida na Selva”, de Álvaro Laborinho Lúcio
Sugestão de José Matias Alves
“É um livro inclassificável. Um mosaico de memórias, de inscrições, de evocações, de sucessivos nascimentos e renascimentos. Um livro de outros livros, outros textos, viagens pelos interiores e exteriores de si mesmo, registos autobiográficos. Um livro para “se descobrir a si mesmo” para “explicar o seu inexplicável coração” como refere, citando Chateaubriand. Organizado em 4 andamentos – tempos de nascer, tempos de voar, tempos de lutar, tempos de partir, aos quais o autor adenda um prefácio e um posfácio, a Vida na Selva elege o tema de uma excelente redação feita no primeiro ano de liceu a quem a professora não deu crédito e frente a toda a turma interpelou: “Diz lá, meu filho, não foste tu quem escreveu, pois não?” Esta “profecia” quase arruinou a escolarização, e obrigou o autor à metamorfose do renascimento. À incessante procura da palavra, da justeza, da liberdade, da fraternidade. Porque “há livros ‘que não se limitam a pedir uma recepção compreensiva. Exigem reação. Pedem-nos uma ‘ação nova’, como nos refere o autor, glosando Steiner.”
“A Desobediente. Biografia de Maria Teresa Horta”, de Patrícia Reis
Sugestão de Diana Mesquita
“Maria Teresa Horta é uma mulher de poesia, de liberdade, de política, de amor e desamor. Conquista com a sua genialidade e, simultaneamente, coloca em causa, denuncia, perturba. Uma desobediente, portanto.
Em menina brincava à não-existência. Em adulta foi espancada pelos fascistas que lhe disseram “Isto é para aprenderes a não escrever como escreves.”
É uma das três Marias das “Novas Cartas Portuguesas”. Privou com Simone de Beauvoir. Recusou receber um prémio pelas mãos de Passos Coelho. Foi condecorada com a Ordem da Liberdade pelo Presidente da República. Ainda hoje continua a defender as mulheres.
Recentemente é eleita pela estação pública britânica BBC como uma das 100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo.
E esta biografia faz-nos conhecer melhor a Teresinha.
Um dos livros mais fascinantes que li em 2024. Por que não o vosso em 2025?”
“A Noite Mais Longa de Todas as Noites”, de Helena Pato
Sugestão de Filipa Sobral
“Nos 50 anos do 25 de abril de 1974 é tempo de celebrar a liberdade, mas também de recordar os tempos sombrios que a antecederam. A força da memória e da verdade histórica levaram-me a visitar, neste ano que agora termina, dois dos cárceres políticos do Estado Novo: a Prisão do Aljube e o Forte de Peniche (hoje transformados em Museus de Resistência e Liberdade). Nestas visitas percebi como sabia tão pouco sobre o que se passou naqueles lugares e sobre as vivências de quem ali esteve dias, meses ou anos da sua vida. Em homenagem a estas memórias e para que as mesmas nunca sejam esquecidas, deixo-vos a recomendação de um livro escrito na primeira pessoa: A Noite Mais Longa de Todas as Noites 1926-1974 de Helena Pato. Nesta obra autobiográfica, a autora partilha de forma crua as torturas a que foi sujeita pela PIDE, como sobreviveu, resistiu e nunca desistiu. Se quiserem ouvir o seu testemunho de viva voz, bem como testemunho de outros presos políticos, podem também visitar o canal do Museu do Aljube no Youtube https://www.youtube.com/@museudoaljuberesistenciael239”
Um convite à reflexão e à ampliação de novos horizontes
Estas são apenas algumas entre as várias obras que poderiam ter sido sugeridas. Ler é um ato de transformação e de enriquecimento cultural e pessoal. Ao mergulharmos em novas histórias, ampliamos os nossos horizontes, desenvolvemos o nosso pensamento crítico e adquirimos ferramentas para a construção de um mundo mais justo e solidário.
Esperamos que estas leituras sejam uma fonte de inspiração para todos os estudantes e membros da FEP-UCP.