A pandemia de COVID-19 trouxe desafios sem precedentes para o sistema educativo. Em Portugal, a transição abrupta para o ensino a distância em março de 2020 forçou professores e escolas a adaptarem-se rapidamente a novas realidades. Um estudo, publicado no European Journal of Special Needs Education, investiga como as experiências pessoais e profissionais dos professores influenciaram a implementação de práticas inclusivas nas suas aulas durante o segundo confinamento, que decorreu entre janeiro e abril de 2021.
O estudo foi desenvolvido por Marisa Carvalho, docente na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa (FEP-UCP), em colaboração com colegas da Universidade Lusíada, e envolveu 137 professores de escolas públicas e privadas, incluindo docentes dos arquipélagos da Madeira e dos Açores.
Os resultados revelam que fatores como a experiência de ensino, o género e o tamanho do agregado familiar tiveram um impacto significativo nas perceções dos professores sobre a adoção de práticas inclusivas no ensino a distância.
Os professores com mais anos de experiência demonstraram maior confiança na implementação de práticas inclusivas, provavelmente devido à sua maior familiaridade com as dinâmicas da sala de aula e com a diversidade dos alunos. Em contraste, os docentes com famílias maiores enfrentaram mais dificuldades em manter práticas inclusivas, o que destaca a importância do apoio familiar e comunitário em tempos de crise.
A importância das estratégias de coping e do apoio local
As estratégias de coping utilizadas pelos professores para gerir o stress e as experiências traumáticas associadas à pandemia também desempenharam um papel crucial. Aqueles que adotaram estratégias adaptativas focadas na resolução de problemas, criação de planos de ação, gestão de conflitos e na procura de apoio social conseguiram adaptar-se melhor aos desafios do ensino remoto.
Além disso, a perceção positiva das medidas locais de combate à pandemia foi determinante para a implementação de práticas inclusivas, evidenciando a relevância do apoio comunitário.
Estes resultados sublinham que as experiências pessoais dos professores têm um impacto direto nas suas práticas pedagógicas, e reforçam a necessidade de medidas de apoio contínuo.
Incorporar dimensões de bem-estar e de autocuidado no desenvolvimento profissional docente
Marisa Carvalho defende que os resultados do estudo devem incentivar a definição de políticas e medidas de desenvolvimento profissional docente que integrem dimensões de bem-estar e de autocuidado. A também investigadora do Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH) sublinha ainda a importância da criação de mecanismos de apoio a professores em situação de crise, garantindo que o apoio seja adequado às suas necessidades e realidades.
A investigação intitula-se "Teachers’ experiences during the COVID-19 pandemic in Portugal: the role of personal, professional and coping variables in inclusive practices" e é também assinada por Joana Cruz (Universidade Lusíada), Beatriz Teixeira (Universidade Lusíada) e Jéssica Cardoso (Universidade Lusíada).
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