Novo número da Revista Portuguesa de Investigação Educacional dedicado à Pedagogia Social e à Educação Social

Quarta-feira, Janeiro 29, 2025 - 11:33

A edição número 29 da Revista Portuguesa de Investigação Educacional é dedicada ao tema crucial da “Pedagogia Social e Educação Social”. A edição, composta por oito artigos científicos revistos por pares, destaca a importância da Pedagogia Social no atual panorama das Ciências da Educação.

Num contexto socioeducacional que frequentemente enfatiza a competitividade individual e uma abordagem técnica da educação, este número sublinha a necessidade de recentrar o foco na dimensão relacional da educação, no seu encontro humano e transformador.

Como destaca Isabel Baptista, uma referência na área da Pedagogia Social em Portugal, na abertura deste número: “a racionalidade pedagógico-social distingue-se pelo seu carácter intrinsecamente relacional, remetendo, a um nível essencial, para a experiência de acolhimento intersubjetivo vivida na relação educativa, enquanto encontro humano transformador conduzido por profissionais devidamente habilitados para o efeito, os pedagogos sociais.”

Estes profissionais, atuando junto de pessoas de todas as idades e em diversos contextos institucionais e comunitários, “têm vindo a protagonizar processos de formação e de afirmação identitária que importa relevar num quadro de cumprimento do direito universal à educação e de promoção de condições de desenvolvimento humano e social inclusivo, justo e solidário.”, afirma.

 

O exercício profissional dos educadores sociais

A revista oferece diversas perspetivas sobre o exercício profissional dos educadores sociais. Ana Camões assinala no seu artigo uma importante conclusão: “a urgência de um investimento mais robusto em programas de formação ajustados, que valorizem não apenas a prática profissional, mas que também reforcem a identidade e a capacidade ética dos Educadores Sociais, em consonância com os princípios de justiça social e equidade.”

Cláudia Gigante, por sua vez, sublinha que a incorporação da Pedagogia Social na formação de professores favorece a consciencialização sobre questões sociais, forma profissionais mais preparados para lidar com a diversidade e fortalece o papel da escola como agente de transformação social. Esta articulação entre pedagogia escolar e social revela-se crucial para uma educação justa e inclusiva.

Rita Valente analisa as perceções dos pedagogos sociais “sobre valores relacionais, no contexto de uma liderança pedagógica pautada pelo valor da hospitalidade”, expondo resultados de um estudo sobre como esses valores são vividos e percecionados como “qualidades de liderança pedagógica nas instituições socioeducativas”.

 

O educador social como facilitador de pontes

Ana Prada, Rosa Novo e Carla Lima contribuem com uma reflexão sobre “o papel do educador social como facilitador de pontes e conexões que estimulem o desenvolvimento de competências socioemocionais em crianças e jovens”. As autoras defendem que, superando “uma perspetiva meramente técnica e recreativa”, o educador social é “atualmente reconhecido pela sua atuação social e pedagógica mais ampla e sustentada, concorrendo para as novas dimensões e funções alargadas que a educação escolar exige.”

Num outro artigo, Fernando Guedes aborda a implicação da Inteligência Artificial Generativa (IAG) na formação de educadores sociais, assinalando que ela permite “a personalização de conteúdos, automação de tarefas e criação de simulações educativas”. Contudo, salienta que surgem desafios éticos e operacionais, como privacidade de dados, enviesamento algorítmico e falta de regulamentação”. O artigo propõe um modelo de capacitação baseado na integração ética e na inovação pedagógica, destacando estratégias para maximizar o potencial da IAG na educação social.

Arthur Vianna Ferreira apresenta os resultados de uma pesquisa sobre a formação docente inicial, os pretextos postos na legislação para a organização curricular do ensino superior para as Licenciaturas e os constrangimentos e avanços que auxiliam, ou não, na permanência dos educadores sociais nestes espaços de formação docente”, no Brasil.

Por fim, Manuela Silva e Ana Fontes apresentam os resultados de um estudo sobre “preconceito e discriminação numa profissão feminizada”, com base nas perceções de estudantes de cursos de educação social. Os resultados demonstram a predominância feminina nos cursos de educação social, embora os estudantes não percecionem esta área de formação e profissão como exclusivamente feminina. As autoras concluem que “a desvalorização da profissão de Educador/a Social decorre sobretudo de questões relacionadas com a identidade profissional e com a diversidade de âmbitos de intervenção, não se encontrando, assim, especialmente ligada à feminização da profissão.”

Esta edição da revista oferece múltiplas perspetivas que enriquecem o debate sobre o presente e o futuro da educação, e não apenas sobre o campo específico da Pedagogia Social.

Como reforça Isabel Baptista, “os pedagogos sociais estão na linha da frente no cumprimento do direito universal à educação”, pois transportam para esta a possibilidade e a capacidade de acolher universalmente “os educandos na plenitude da sua alteridade.”

 

Sobre a Revista Portuguesa de Investigação Educacional

A Revista, editada pela Universidade Católica Editora, dedica-se ao estudo, à prática e à investigação no âmbito das Ciências da Educação. A Revista está associada ao Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH) e é cofinanciada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).