Press News & Events

Maria Carmo Carvalho "Psicadélicos e Pandemia: parte I"

Segunda-feira, Março 15, 2021 - 20:30
Publication
Público
A propósito do lançamento do www.safejourney.pt — uma plataforma digital sobre psicadélicos em Português, para portugueses.


Discutir psicadélicos no momento em que lutamos pela sobrevivência, por manter-nos à tona? Desvario mais que certo de alguém fechado em casa há demasiado tempo, dirão. Pois bem, porque é que discutir psicadélicos é uma boa ideia, no geral e agora, em particular?

Há 13 anos comecei a colaborar num serviço de emergência psicológica para utilizadores de psicadélicos (sobretudo MDMA e LSD), num grande festival de música electrónica em Portugal. Durava pouco mais de uma semana cada dois anos, mas bastou para mudar a minha vida. Recebiam-se ali pessoas muito alteradas. Ainda estavam sob o efeito daquelas substâncias, acabadas de usar, e poderiam ficar ao nosso cuidado horas, dias. Os seus sintomas eram variados, mas o mais frequente era a alteração da percepção do mundo e da realidade comuns, e da comunicação com o outro. Estavam assustadas com a força dos efeitos dos químicos sobre o corpo, sobre a mente, sobre os afetos e temiam ficar presas naquele estado terrível. Se tivessem crítica. Porque, não raramente, estavam tão desligadas da realidade, o conteúdo da sua experiência era tão impartilhável, que voltar ou não da viagem era a menor das suas preocupações. Tudo isto se agravava quando eram pessoas vulneráveis à doença mental — podiam sabê-lo ou não, vivendo nesse caso ali mesmo, à nossa frente e em tempo real, um primeiro surto psicótico. Cuidávamos delas duma forma que não cabe explicar dentro de padrões convencionais porque, infelizmente, nos tornámos cínicos e nos habituámos a olhar com desconfiança e descrença tudo o que acontece de forma espontânea, autêntica, humana, bondosa (sim...), gratuita. Ao longo dos anos fomos aprendendo a juntar a esse esforço um rigor técnico e científico cada vez mais robusto.

Leia o artigo na íntegra aqui.