Alexandra Fretian, da Technical University of Munich (Escola de Medicina e Saúde) e do Centro Colaborador da OMS para a Literacia em Saúde, visitou recentemente a Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa (FEP-UCP) e o Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH). Com esta visita, a investigadora veio aprofundar o conhecimento sobre o projeto “Expanding Mental Health Literacy”, coordenado por Luísa Campos e Pedro Dias, com a recente colaboração de Diogo Costa. Fomos conhecer o seu percurso, os seus interesses de investigação na área da literacia em saúde mental e a sua experiência na FEP-UCP/CEDH.
Qual o seu percurso e interesses de investigação?
O meu percurso académico é multidisciplinar. Comecei com uma licenciatura em psicologia na Roménia. Depois, mudei-me para a Alemanha, onde fiz um mestrado em saúde pública, seguido de um doutoramento em ciências da educação. Os meus interesses de investigação centram-se na literacia em saúde, com um enfoque particular na literacia em saúde mental, especialmente entre adolescentes.
Por que considera a literacia em saúde mental um tema tão importante?
A literacia em saúde mental é essencial porque a saúde mental ainda é uma área subvalorizada na promoção da saúde e permanece estigmatizada na perceção pública. Em muitos países, os cuidados em saúde mental são subfinanciados e separados dos cuidados de saúde geral, demonstrando que a saúde mental não é vista como parte integrante da saúde global. Dada a prevalência das questões de saúde mental, é provável que todos nos deparemos com este tema ao longo da vida, seja por experiência pessoal, seja no apoio a amigos, familiares ou colegas. É essencial que as pessoas reconheçam os sinais de doença mental, saibam como procurar apoio e se defendam de estereótipos negativos. A adolescência é um período ideal para começar a cultivar a literacia em saúde mental, uma vez que muitas condições de saúde mental começam a desenvolver-se nesta fase da vida.
“As intervenções de literacia em saúde mental destinadas os jovens são eficazes no aumento do conhecimento sobre a saúde mental e na redução do estigma”
Recentemente, terminou o seu doutoramento com uma tese sobre Literacia em Saúde Mental na Adolescência. Quais foram alguns dos principais resultados?
Um dos resultados mais significativos foi que as intervenções de literacia em saúde mental para jovens são eficazes no aumento do conhecimento sobre saúde mental, na redução do estigma e, até certo ponto, na construção de confiança para procurar ajuda profissional. Contudo, existem poucos dados sobre outros resultados. Por exemplo, ainda não sabemos se os jovens que participam nestas intervenções têm maior probabilidade de procurar ajuda profissional ou de lidar melhor com o stress como consequência. A investigação futura deverá focar-se não apenas em melhorar a literacia em saúde mental, mas também em formas de melhorar o bem-estar geral, o que beneficia a saúde mental. Esta perspetiva mais abrangente pode gerar insights significativos para a melhoria dos resultados em saúde mental.
Como tomou conhecimento do projeto “Expanding Mental Health Literacy”?
Durante a minha tese, aprofundei o estudo da área de literacia em saúde mental e notei o desafio da necessidade de ferramentas de medição consistentes. A Luísa Campos, o Pedro Dias e a sua equipa abordaram este problema ao desenvolver um novo questionário de literacia em saúde mental, que está a ser utilizado no projeto “Expanding Mental Health Literacy”. Esta ferramenta permite comparações interculturais fiáveis, que são inestimáveis para compreender a literacia em saúde mental em diferentes contextos. Na Technical University of Munich, estamos a realizar um estudo nacional na Alemanha, e a incorporação desta ferramenta oferece uma excelente oportunidade para contribuir para uma compreensão global mais ampla da literacia em saúde mental.
“O nosso principal objetivo é comparar os níveis de literacia em saúde mental entre Portugal e a Alemanha”
Como tem sido a sua experiência de trabalho com a equipa da FEP-UCP?
Pretendemos comparar os níveis de literacia em saúde mental entre Portugal e a Alemanha e examinar o impacto dos fatores socioeconómicos. Esta é uma área pouco estudada, e esperamos preencher essa lacuna através de uma publicação conjunta sobre o tema. Tem sido muito gratificante colaborar com a equipa da FEP-UCP, e essa colaboração tem sido muito enriquecedora.
Do que gostou mais na cidade do Porto e na Universidade Católica Portuguesa?
Fiquei particularmente impressionada com a cultura de acolhimento no CEDH e com a abertura da equipa para partilhar a sua investigação e, até mesmo, os seus conhecimentos locais para me ajudar a aproveitar a minha estadia. A experiência foi enriquecedora a nível profissional e pessoal. Recomendo vivamente intercâmbios académicos como este, porque são excelentes para fomentar novas ideias e o espírito de colaboração.
A visita de Alexandra Fretian à FEP-UCP/CEDH e a sua participação no projeto “Expanding Mental Health Literacy” destacam a importância da colaboração internacional na promoção da investigação e de intervenções de literacia em saúde mental.