Diogo Resende: “Trabalho num clube onde a figura do psicólogo está completamente normalizada.”

Quarta-feira, Abril 16, 2025 - 10:56
Fotografia de Diogo Resende

Diogo Resende tem 27 anos e é licenciado e mestre em Psicologia pela Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica no Porto. Foi durante a licenciatura que se apaixonou pela área da Psicologia do Desporto. Atualmente, é Psicólogo da equipa de sub-19 do Sporting Clube de Braga e o seu dia-a-dia é passado em grande proximidade com os atletas. Dos anos passados na Católica, destaca a proximidade com os docentes e a forte componente prática do ensino. Planos para o futuro? “Continuar a sentir-me realizado.”

 

Porquê estudar Psicologia?

A ideia da Psicologia surge já quase no final do 12º ano. Sempre soube que queria ter uma profissão que me permitisse um contacto próximo com pessoas e essa profissão para mim, durante muito tempo, foi o jornalismo. Imaginava-me pelas ruas, a falar com as pessoas. Até que no 12º ano tive a disciplina de Psicologia e comecei-me a abrir a outras possibilidades. Comecei a interessar-me muito pelos temas e a aperceber-me que é uma área de grande relação e contacto.

 

Quando surge o interesse pela Psicologia do Desporto?

Foi durante a licenciatura que comecei a explorar quais os caminhos dentro da Psicologia. A Professora Lurdes Veríssimo acompanhou o meu percurso e mostrou-me que esta podia ser uma opção. Comecei a explorar e também fui falar com pessoas que já trabalhavam nesta área. Fui, também, visitar um clube e li muito sobre o tema. Foi aumentando em mim o interesse e, hoje em dia, sou completamente apaixonado por esta área.

 

Como é o seu dia-a-dia enquanto Psicólogo da equipa de sub-19 do Sporting Clube de Braga?

Faço o acompanhamento diária da equipa, isto significa que os acompanho no ginásio e observo a dinâmica de cada um e em grupo, estou em todos os treinos, na fisioterapia e também estou com eles no balneário. Há um contacto e uma proximidade muito grande. Faço um acompanhamento muito personalizado a todos os jogadores. Cria-se uma relação que tem potencial para se tornar muito significativa para a minha atuação enquanto psicólogo. É um fator completamente chave para o sucesso da intervenção.

 

Faz parte da equipa …

Exatamente. Sou mais um elemento que está diariamente com os atletas. Tal como o treinador, o preparador físico, o nutricionista da equipa, também existe o psicólogo. Somos uma equipa multidisciplinar e trabalhamos para tentar tirar o máximo de rendimento dos atletas. No meu caso em particular, para além de haver uma total abertura para falarem comigo sobre qualquer tema da sua vida, há um foco grande no trabalho da autoconfiança, no treino da concentração, o saber lidar com o erro e com a frustração. Muitas vezes o atleta não está no máximo do seu rendimento por motivos pessoais ou familiares e, por isso, a intervenção do psicólogo engloba todas as dimensões.

 

Quais são as especificidades do contexto desportivo?

O contexto desportivo tem até alguns pontos de contacto com o meio empresarial: há hierarquias, trabalho em equipa, rendimento e performance. Ainda assim tem muitas outras particularidades e especificidades que não se encontram num meio mais tradicional de Psicologia Clínica, que é precisamente este contacto diário e intenso que eu tenho com os jogadores.

 

A Psicologia do Desporto destina-se exclusivamente a atletas?

Também a atletas, mas não só. Atletas profissionais, mas, também, amadores. Destina-se a qualquer um de nós que pratica uma atividade física casual, mas, também, se destina a treinadores, dirigentes, árbitros, fisioterapeutas e outros. A Psicologia do Desporto atua em contexto desportivo e esse contexto engloba uma grande diversidade de pessoas e todas elas podem beneficiar da atuação de um Psicólogo do Desporto.

 

O que é que mais o marcou durante os anos de licenciatura e mestrado na Faculdade de Educação e Psicologia?

A proximidade e a disponibilidade dos professores. Sempre senti que nos procuravam ajudar e que se empenhavam em enriquecer o nosso percurso. A dimensão prática do ensino, também, marcou muito a minha experiência na Católica, principalmente durante o mestrado, foram dois anos muito marcantes. Aprendi imenso e formei-me para ser o profissional que sou hoje. Tive muito contacto com o contexto real de trabalho e tive oportunidade de fazer algumas intervenções e dar formações. A dimensão prática do ensino é um fator muito diferenciador da Católica. Fruto desta componente prática e do estágio que fiz no Futebol Clube do Porto, pude constatar que estou mesmo no sítio certo e que a Psicologia do Desporto tem de ser parte da minha vida. Identifico-me profundamente com esta área.

 

Ainda durante o Mestrado em Psicologia da Educação e Desenvolvimento Humano, criou uma série de entrevistas na área da Psicologia do Desporto. Em que é que consistiu o projeto?

O projeto surge com o Rúben, um colega do mestrado e um grande amigo. Estávamos os dois a iniciar-nos na Psicologia do Desporto. Decidimos criar uma rubrica de entrevistas no Youtube a atletas, treinadores, árbitros e psicólogos. Chama-se Na Desportiva e estão disponíveis online. O objetivo foi dar a conhecer diferentes perspetivas sobre a área do Psicologia do Desporto. Quisemos ir ao encontro de quem está no terreno e de quem vive diariamente a Psicologia no desporto. Fizemos uma séria de dez entrevistas que culminaram numa Mesa Redonda que decorreu no Auditório da Católica.

 

Os clubes estão conscientes da importância de existirem psicólogos nas suas estruturas?

Se falarmos de forma geral, talvez ainda haja alguns clubes que, por motivos vários, não tenham a possibilidade de ter uma equipa de Psicologia, alguns talvez ainda desconheçam o potencial que um psicólogo do desporto pode trazer a uma instituição desportiva. Contudo, a experiência que eu tenho no Braga é totalmente diferente. Trabalho num clube onde a figura do psicólogo está completamente normalizada. Temos um departamento de Psicologia com 15 psicólogos, um para cada escalão. No clube, os meninos, desde muito cedo, sabem o que é um psicólogo e para que serve. A figura do psicólogo está muito familiarizada e é tão normal chegar a um treino e estar lá o psicólogo como chegar ao treino e estar lá o treinador ou o fisioterapeuta. É uma figura perfeitamente normalizada.

 

Planos para o futuro?

Se o meu futuro passar por aquilo que já é o meu dia-a-dia profissional atualmente, serei feliz. O meu plano para o futuro é continuar a sentir-me realizado.

 


Pessoas em Destaque é uma rubrica de entrevistas da Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional do Porto.