Um novo estudo do Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH) da Faculdade de Educação e Psicologia (FEP) da Universidade Católica Portuguesa (UCP) concluiu que as experiências de aprendizagem dos jovens que frequentam movimentos escutistas podem ser usadas para inspirar mudanças transformadoras nas práticas pedagógicas das escolas (sistema de ensino formal).
A investigação, designada Scouts’ Perspectives on Learning Experiences from a Pedagogical Innovation Scope, e publicada na revista Education Sciences, analisou a experiência de aprendizagem de jovens adultos, com idades entre os 18 e os 22 anos, que integraram o Corpo Nacional de Escutas (CNE), por cerca de 12 anos.
Os participantes foram questionados sobre as suas experiências de aprendizagem no CNE – o maior movimento de escuteiros em Portugal – e sobre o modo como essas experiências poderiam ajudar a transformar o sistema de ensino formal.
Como explica José Matias Alves, coordenador da investigação, cujo primeiro autor é o estudante José Sinde, “o projeto de investigação teve como objetivo averiguar como os participantes descreveram as suas experiências de aprendizagem no contexto do maior movimento escutista português, tentando identificar vários indicadores de inovação pedagógica nas suas narrativas, o valor subjetivo que atribuem a esses indicadores e o que pensam sobre como o sistema educativo formal poderia repensar a educação, tendo por base algumas das práticas libertadoras e emancipatórias do escutismo português.”
O movimento escutista como experiência de aprendizagem única e valiosa
Os resultados encontrados no discurso dos participantes sugerem fortemente que o movimento escutista oferece uma experiência de aprendizagem única e valiosa e que pode fornecer ideias para mudanças transformadoras no sistema de educação formal.
Os participantes destacaram a importância do trabalho em equipa, da aprendizagem baseada na experiência, da liderança e do contacto com a natureza como aspetos muito significativos para as suas aprendizagens. Os jovens também relataram que o movimento escutista os ajudou a desenvolver competências transversais importantes para a vida, como a autonomia, a resiliência e a responsabilidade social.
A investigação demonstra, assim, que as escolas podem tornar as suas práticas pedagógicas mais inovadoras, através da incorporação de elementos da pedagogia escuteira. Este movimento coloca a sua ênfase na aprendizagem ativa, na qual os jovens são os protagonistas do seu próprio processo de aprendizagem, o que está em linha com vários indicadores de inovação pedagógica. Além do mais, estas práticas contribuem para o desenvolvimento integral dos indivíduos, indo para além do mero conteúdo curricular.
Atendendo às experiências de aprendizagem reportadas pelos participantes na investigação, as escolas poderiam apostar em “mais liberdade para aprender, mais personalização do ensino, mais flexibilidade no modo de agrupar os estudantes, maior recurso à utilização de espaços abertos e sociais, e maior flexibilidade no uso do tempo (em função das características dos alunos)”, destacaMatias Alves.
Para o docente da FEP e investigador no CEDH, o paper comprova que “uma outra educação é possível, como temos vindo recorrentemente a mostrar”.