Um trabalho do Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH) da Faculdade de Educação e Psicologia destaca a importância de investir na formação sobre cuidados sensíveis ao trauma nas Casas de Acolhimento Residencial para crianças e jovens, após ter auscultado as perspetivas de vários profissionais que trabalham nestes contextos. A investigação realça igualmente a necessidade de supervisão e apoio aos profissionais, para garantir que vão ao encontro das necessidades das crianças e jovens que vivem nestes contextos.
Portugal apresenta uma elevada prevalência de acolhimento residencial para crianças e jovens em risco, muitos dos quais foram expostos a experiências adversas e potencialmente traumáticas. Mariana Negrão, primeira autora do estudo, realça que “a garantia de um cuidado residencial sensível à adversidade das trajetórias prévias destas crianças e jovens é valiosa. É necessário proporcionar-lhes um ambiente seguro e saudável, o que também se reflete no bem-estar das equipas de profissionais.”
Um olhar aprofundado sobre a realidade da prestação de cuidados
Tendo em conta este enquadramento, os investigadores utilizaram uma ferramenta inovadora – o Questionário de Avaliação dos Cuidados Sensíveis ao Trauma (Veiga, Rocha & Negrão 2022) – para mapear as práticas e as perceções dos profissionais que trabalham em Casas de Acolhimento Residencial para crianças e jovens, identificando pontos fortes e áreas a melhorar no que diz respeito à prestação de cuidados sensíveis ao trauma.
Os principais resultados da investigação revelam que os colaboradores têm uma visão positiva sobre o ambiente físico das casas de acolhimento, mas consideram que falta formação sobre o tema e uma supervisão adequada quanto à implementação destes cuidados.
Para a investigadora, “este estudo exploratório destaca a visão do papel determinante do apoio aos profissionais, para que seja possível garantir cuidados residenciais sensíveis ao trauma que respondam às necessidades das crianças e jovens.”
Da mesma forma, a supervisão regular é essencial para que os profissionais possam refletir sobre as suas práticas, receber apoio e desenvolver estratégias para lidar com as especificidades do seu exigente trabalho.
Intitulado “Trauma–Sensitive Residential Care: Perspectives of Portuguese Professionals to Spark Change”, o estudo representa um passo crucial para a melhoria dos cuidados prestados em Casas de Acolhimento em Portugal. É um estudo desenvolvido no âmbito do projeto Capacity building in trauma sensitive care, liderado por Elisa Veiga (CEDH e FEP-UCP). Além das investigadoras, o trabalho conta com a colaboração de José Carlos Rocha (Centro de Psicologia do Trauma e do Luto e CESPU) e Inês Clemente (CEDH).