A Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa (FEP-UCP) publicou recentemente na revista científica internacional “Heroism Science” um artigo que documenta a história, o impacto e a expansão, em Portugal, do “Heroic Imagination Project” (HIP), uma iniciativa global que incentiva pessoas a agir de forma heroica no quotidiano. A primeira autora do estudo é Mariana Barbosa, docente da FEP-UCP e investigadora no Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH), em coautoria com Ana Mafalda Guimarães e Mafalda Gomes Santos, ambas antigas alunas da FEP-UCP.
O artigo, intitulado “From Heroic Imagination to Heroic Action: The Legacy of Philip Zimbardo in Portugal”, descreve como, desde 2018, o HIP tem sido adaptado e implementado em escolas portuguesas e em centros comunitários, após formação direta com Philip Zimbardo, referência mundial da Psicologia Social e fundador do projeto.
HIP Kids e HIP Teens: formar heróis do quotidiano
Os programas HIP Kids e HIP Teens ensinam crianças e jovens a superar barreiras psicológicas que inibem a ajuda e a ação cívica, combatendo o fenómeno da “inação do espetador” (bystander effect). Através de metodologias de educação não formal (dinâmicas de grupo, debates e simulações), os participantes aprendem estratégias para agir perante situações de injustiça, bullying ou exclusão social.
Desde 2018, estas iniciativas foram implementadas em escolas de diferentes regiões do país, bem como em centros comunitários, incluindo territórios TEIP (zonas de maior vulnerabilidade social). No total, cerca de 1.200 crianças e adolescentes já participaram nos programas.
Da imaginação à ação heroica
Os primeiros estudos revelaram aumentos significativos no altruísmo e nas tendências pró-sociais dos jovens que participaram no HIP, quando comparados com grupos de controlo.
A avaliação qualitativa reforçou estes resultados, mostrando mudanças concretas no quotidiano: desde pequenos gestos de solidariedade até melhorias nas interações familiares, com jovens a relatarem não só uma comunicação mais empática em casa, mas também que passaram a influenciar os próprios familiares a agir e a não permanecerem como “bystanders” perante situações de necessidade. Outras iniciativas, como o programa “Ubuntu para Herois”, evidenciaram igualmente impactos positivos ao nível das competências sociais, cognitivas e emocionais.
O artigo destaca ainda a criação dos HIP Clubs, uma evolução natural do trabalho desenvolvido com o HIP Teens, que permitiu aos participantes aplicar - no seu próprio bairro - os conhecimentos adquiridos nas sessões, passando da imaginação para a ação heroica. Desta experiência resultaram ações comunitárias como campanhas de limpeza, auditorias de acessibilidade, cartas formais enviadas à autarquia e campanhas de sensibilização contra o bullying. Estas iniciativas contribuíram simultaneamente para melhorar o ambiente comunitário e para reforçar nos jovens a perceção de que podem ser agentes de mudança no seu contexto.
Um tributo ao legado de Zimbardo
O artigo é também uma homenagem ao legado de Philip Zimbardo, cuja colaboração próxima com a equipa portuguesa começou com um simples e inesperado e-mail. Desde então, 13 dissertações de mestrado foram desenvolvidas na FEP-UCP no âmbito do HIP, consolidando a adaptação e validação científica do programa em Portugal.
Para Mariana Barbosa, “o Heroic Imagination Project mostra que a coragem para agir não é um traço extraordinário, mas uma competência que pode ser ensinada e praticada. Ao levar este programa para escolas e comunidades portuguesas, estamos a dar aos jovens ferramentas para enfrentar situações de injustiça e transformar a sua realidade. Porque ser herói é, acima de tudo, escolher não ficar indiferente








