A enurese é categorizada como uma perturbação de eliminação e caracteriza-se pela emissão repetida de urina durante o dia ou a noite, na cama ou na roupa. Geralmente, esta emissão é involuntária, mas há episódios em que pode ser intencional. Este é um problema comum em crianças em idade pré-escolar (APA, 2013). Em Portugal, existe uma maior prevalência no sexo masculino (9.4 %), quando comparado com o feminino (4.3 %). A enurese tende a diminuir ao longo da idade, sendo a prevalência de 16.3 % aos 5 anos, 7.8 % aos 7 anos e 3.7 % aos 9 anos (Bandeira, Barreira & Matos, 2007).
A sinalização precoce é importante pois, apesar de haver uma taxa de recuperação espontânea de 15%, a mesma pode prolongar-se na adolescência, acarretando um impacto psicológico para os adolescentes (von Gontard & Kuwertz-Bröking, 2019). Alguns dos fatores que podem precipitar o aparecimento deste problema podem ser as infeções do trato urinário, abuso sexual e obstipação. Antes do diagnóstico da enurese deve existir o despiste de vulnerabilidade genética e de anomalias do trato urinário que possam justificar os sintomas. Outros fatores que podem contribuir para que um quadro de enurese se inicie ou mantenha são o desfralde tardio, uma maior desorganização e inconsistência familiar, o elevado stress familiar, o reforço inadvertido do problema do comportamento, e ainda, as expectativas desadequadas acerca da capacidade de controlo da bexiga (APA, 2013).
A intervenção do psicólogo na enurese é muito centrada na criança, mas importa reforçar que a eficácia do tratamento pode variar dependendo da gravidade da situação e da disposição da família em termos de adesão à intervenção e estratégias propostas. Desta forma, a articulação com os pais é fundamental, na medida em que os pais devem ter informação adequada acerca do problema e das formas de lidar com o mesmo. A existência de um meio familiar mais propício ao estabelecimento de relações mais saudáveis é um fator que contribui de forma significativa para o sucesso da intervenção. A intervenção pode passar pela combinação de estratégias comportamentais, alterações no estilo de vida e, ocasionalmente, farmacologia (Friedberg & Paternostro, 2019).
Isabel Pereira, Mariana Martins, Marta Veiga, Miguel Couto, Miriam Cheng, Sofia Pimenta | Alunos do Mestrado em Psicologia, Especialização em Psicologia da Educação e Desenvolvimento Humano, da Faculdade de Educação e Psicologia
Se quiser saber mais, leia os seguintes artigos….
American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). https://doi.org/10.1176/appi.books.9780890425596
Bandeira, A., Barreira, J., & Matos, P. (2007). Prevalência da enurese noturna em crianças em idade escolar na zona Norte de Portugal. Nascer e Crescer, (16 (2)), 65-69.
Friedberg, R. D., & Paternostro, J. K. (Eds.). (2019). Handbook of cognitive behavioral therapy for pediatric medical conditions. Springer International Publishing.
von Gontard, A., & Kuwertz-Bröking, E. (2019). The diagnosis and treatment of enuresis and functional daytime urinary incontinence. Deutsches Ärzteblatt International, 116(16), 279. 10.3238/arztebl.2019.0279
A Clínica Universitária de Psicologia (CUP) procura contribuir ativamente para a formação dos futuros psicólogos e também para aumentar a literacia em saúde mental na comunidade em geral. Neste sentido, foi desenvolvida uma iniciativa entre a CUP e os alunos do mestrado em psicologia na unidade curricular de Avaliação e Intervenção Clínica com Crianças e Adolescentes. Em articulação com a Prof.ª Alexandra Carneiro, docente da UC, os alunos produziram notícias sobre diversas perturbações psicológicas, baseadas na evidência científica, que serão disponibilizados no site da CUP. Esta iniciativa permitirá aumentar o conhecimento científico sobre problemas de saúde mental junto da comunidade. Boas leituras!