Um estudo realizado em 2004 mostrou que cerca de 0.4% da população portuguesa tem anorexia nervosa (Machado et al., 2004). Apesar de ser uma problemática de que muito se ouve falar, importa clarificar que a anorexia nervosa se caracteriza pelo baixo peso corporal, tendo em conta o esperado para a idade, sexo e estado de saúde global.
Em casos de anorexia nervosa, verifica-se a existência de hábitos alimentares que implicam uma baixa ingestão de alimentos de forma persistente, bem como uma preocupação excessiva com a forma corporal e o peso, sendo de realçar que a perceção da imagem corporal não é coerente com a realidade (APA, 2014). Quão mais cedo forem reconhecidos os sintomas e a intervenção for realizada, melhor é o prognóstico (Pinzon et al., 2004).
Relativamente aos fatores que podem conduzir ao desenvolvimento desta problemática, a investigação tem indicado que existe uma multiplicidade de fatores de cariz genético e sociocultural que, em interação, potenciam o surgimento de sintomas (Machado et al., 2014). De forma global, os fatores que parecem aumentar a probabilidade de desenvolver esta perturbação são o perfecionismo, os comportamentos de dieta extremos, a preocupação com o peso, a pressão social para um ideal de magreza, a insatisfação corporal e o histórico familiar de anorexia nervosa ou de outros problemas psiquiátricos (Jacobi et al., 2004; Machado et al., 2014). Para além destes fatores, aspetos como comentários críticos acerca do peso, forma, ou hábitos alimentares e/ou dieta, podem funcionar como gatilhos para o desenvolvimento de sintomas (Machado et al., 2014; Morgan et al., 2002). Uma vez consolidados, estes sintomas tendem a contribuir para a manutenção do problema, sendo necessário que haja uma intervenção precoce orientada para o desenvolvimento de uma imagem positiva de si, autoestima mais elevada, comunicação funcional com outros significativos (para que se constituam como figuras de suporte) acerca da imagem e preocupação corporal (Berge et al., 2015; Fairburn, 2003; Hildebrandt et al., 2012; McCabe et al., 2001; Nicholls & Viner, 2009).
Os psicólogos, enquanto profissionais da área da saúde mental, estão habilitados a intervir nesta problemática, bem como a auxiliar na gestão das consequências da mesma e na prevenção de recaída após a intervenção (Herpertz-Dahlmann et al., 2020).
Cynthia Moura, Lucas Lopes, Sara Magalhães e Suzana Ferreira | Alunos do Mestrado em Psicologia, Especialização em Psicologia da Educação e Desenvolvimento Humano, da Faculdade de Educação e Psicologia
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Franko, D. L., Keshaviah, A., Eddy, K. T., Krishna, M., Davis, M. C., Keel, P. K., & Herzog, D. B. (2013). A longitudinal investigation of mortality in anorexia nervosa and bulimia nervosa. American Journal of Psychiatry, 170(8), 917-9
Herpertz-Dahlmann, B., Seitz, J., Bühren, K., et al. (2020). The Diagnosis and Treatment of Eating Disorders in Children and Adolescents. Deutsches Ärzteblatt International, 117(33-34), 575-582.
Machado, B. C., Gonçalves, S. F., Martins, C., Hoek, H. W., & Machado, P. P. (2014). Risk Factors and Antecedent Life Events in the Development of Anorexia Nervosa: A Portuguese Case-Control Study. European Eating Disorders Review, 22(4), 243–251. https://doi.org/10.1002/erv.2286
A Clínica Universitária de Psicologia (CUP) procura contribuir ativamente para a formação dos futuros psicólogos e também para aumentar a literacia em saúde mental na comunidade em geral. Neste sentido, foi desenvolvida uma iniciativa entre a CUP e os alunos do mestrado em psicologia na unidade curricular de Avaliação e Intervenção Clínica com Crianças e Adolescentes. Em articulação com a Prof.ª Alexandra Carneiro, docente da UC, os alunos produziram notícias sobre diversas perturbações psicológicas, baseadas na evidência científica, que serão disponibilizados no site da CUP. Esta iniciativa permitirá aumentar o conhecimento científico sobre problemas de saúde mental junto da comunidade. Boas leituras!
