Artigo da FEP analisa programas de promoção de resiliência ao stress para agentes policiais

Sexta-feira, Fevereiro 9, 2024 - 14:30

Um paper, da autoria de investigadores do Human Neurobehavioral Laboratory (HNL) da Faculdade de Educação e Psicologia (FEP) da Universidade Católica Portuguesa (UCP), apresenta uma revisão sistemática da literatura sobre programas de promoção de resiliência ao stress destinados a agentes policiais.

Concluiu-se que estes programas são eficazes na melhoria da saúde mental e desempenho dos polícias, mas que há um caminho a percorrer para a criação de intervenções mais homogéneas em termos de forma, conteúdo e avaliação de impacto.

O trabalho dos agentes policiais é frequentemente marcado por situações de elevado stress e carga emocional. A exposição a eventos traumáticos e a situações de violência e de morte, decorrentes da profissão, pode levar ao desenvolvimento de problemas de saúde mental, como o stress pós-traumático, a ansiedade, a depressão e o burnout.

Vários profissionais de saúde e investigadores têm, nos últimos anos, desenvolvido estudos e programas de intervenção de resiliência ao stress para agentes policiais, com o propósito de melhorar o bem-estar deste grupo e aumentar a sua capacidade em lidar com as adversidades decorrentes da profissão.

O presente artigo, da autoria de investigadores do HNL, e o primeiro a propor uma revisão de literatura neste tema e população específica, sistematizou os programas de intervenção focados na saúde mental e resiliência ao stress dirigidos a agentes policiais, identificando a sua estrutura, conteúdo e eficácia.

 

Grande variação nas intervenções para agentes policiais focadas na resiliência ao stress

A revisão da literatura permitiu concluir que existem programas de intervenção para polícias, mais ou menos uniformes, que recorrem a práticas de mindfulness ou de promoção de consciência do stress e situacional, e que há intervenções onde predominam práticas cognitivas-comportamentais.

Os estudos desenvolvidos revelam que estes programas de intervenção podem ser uma ferramenta eficaz para melhorar a saúde mental e o desempenho profissional dos agentes policiais, dado que contribuem efetivamente para reduzir os seus níveis de stress e sintomas somáticos. 

No entanto, constatou-se “que existe uma grande heterogeneidade e variação na forma destas intervenções. A duração dos programas e a sua forma de avaliar a eficácia dos mesmos é muito variável, apesar de existir alguma congruência a nível do conteúdo abordado”, refere Ana Moreno, primeira autora do artigo.

“Concluímos que há ainda um grande caminho a percorrer até chegarmos a intervenções de promoção de resiliência que consigam oferecer uma proposta mais robusta e homogénea na sua forma, conteúdo e modo de avaliação do seu impacto”, acrescenta.

 

Desenhar programas de intervenção mais eficientes e eficazes

“Esperamos que, com esta revisão, clínicos e investigadores possam ter uma visão mais ampla do tipo de oferta neste campo e consigam desenhar programas de intervenção mais eficientes e eficazes para implementar na prática, e contribuir assim para a promoção da saúde mental dos agentes policiais”, aponta a investigadora.

Patrícia Oliveira-Silva, diretora do HNL, supervisora da linha de investigação e coautora da publicação, refere queeste artigo ressalta a vulnerabilidade dos agentes policiais a condições psicológicas e médicas adversas, derivadas do ambiente emocionalmente desafiador inerente à profissão, e sublinha a necessidade crítica de programas de intervenção focados na resiliência. Ao mapear e analisar a eficácia desses programas, abrimos um caminho promissor que podemos associar às neurociências. Acreditamos que nos estamos a preparar para uma era de inovação na formação policial, onde estratégias baseadas no entendimento do cérebro, poderão vir a revolucionar os programas de promoção de resiliência”.

O artigo de revisão “Resilience Training Programs with Police Forces: A Systematic Review” enquadra-se no projeto Mental Health NeuroForce, desenvolvido no âmbito do Doutoramento em Psicologia Aplicada, que Ana Moreno está a frequentar.

O projeto de doutoramento da investigadora tem como objetivo final propor uma intervenção preventiva que seja próxima da realidade dos agentes policiais portugueses e que tenha um impacto percebido como significativo no que se refere à resiliência ao stress deste grupo profissional.

O paper é igualmente assinado pelas investigadoras Maria Karanika-Murray (Universidade de Leicester), Patrícia Batista (FEP-UCP), Rowena Hill (Nottingham Trent University) e Susanna Rubiol Vilalta (University Ramon Llul).