Diana Soares é docente e investigadora da Faculdade de Educação e Psicologia na área das Ciências da Educação. É fundadora e coordenadora do Católica Learning Innovation Lab (CLIL), um Laboratório de Inovação Pedagógica, alinhado com os princípios de uma educação inclusiva e de um ensino centrado no estudante. Ao longo da sua carreira, exerceu, também, como psicóloga escolar, onde trabalhou com professores para chegar aos alunos. O que é que a move? “O potencial do outro”. Nos tempos livres? “Gosto muito de sossegar, fazer nada”.
A transformação do ensino é uma necessidade?
Ensinar hoje já é diferente do que era ontem. Os contextos e as necessidades alteram-se e as práticas pedagógicas têm de acompanhar esta evolução. Quando pensamos em inovação pedagógica, tendemos a pensar, imediatamente, em tecnologia, inteligência artificial, mas inovação pedagógica vai muito para além disto. Não podemos parar as transformações do mundo e o mesmo se aplica às transformações do ensino. Conseguimos trazer as experiências dos alunos para esta transformação do ensino? Será que trabalhamos de forma interdisciplinar para resolver os problemas? Será que os contextos são tidos em conta? Estes são alguns dos desafios desta transformação. Porque os problemas não têm só uma leitura e, por isso, importa termos visões combinadas, articuladas, interdisciplinares. Cada vez mais, a aprendizagem não pode acontecer só dentro da sala de aula, a universidade precisa de remover fronteiras, muros e barreiras. Temos de ter dentro da Universidade o “mundo de lá fora”, porque só assim é que seremos um verdadeiro espaço de aprendizagem.
É fundadora e coordenadora do Católica Learning Innovation Lab. Em que é que consiste?
O CLIL nasceu na Faculdade de Educação e Psicologia da Católica no Porto, mas rapidamente passou a ser um projeto de abrangência nacional. A nossa grande missão é desenvolver, melhorar e reconhecer as práticas pedagógicas inovadoras que implementamos na Universidade Católica Portuguesa. Queremos reconhecer o que fazemos, queremos gerar sinergias entre professores de diferentes áreas e de diferentes faculdades. No fundo, desejamos criar um verdadeiro movimento em prol da inovação pedagógica, da transformação do ensino, do envolvimento dos professores, mas, também, dos alunos. É um projeto de envolvimento, de interdisciplinaridade e de colaboração e comprometimento da nossa comunidade académica.
A Psicologia foi uma descoberta na sua vida?
Sim, foi mesmo uma descoberta, até porque não tinha grandes referências na área quando escolhi estudar Psicologia. Tinha esta vontade muito clara de estudar e de investir no meu futuro e foi com essa vontade que entrei em Psicologia. Claro que só depois de entrar no curso é que descubro realmente o que é que é a Psicologia. Foi, verdadeiramente “um admirável mundo novo”. Quando falamos em Psicologia, acabamos por ter uma ideia muito reduzida daquilo que é esta área e aquele que pode ser o seu impacto. Foi na licenciatura que me apercebi da diversidade de áreas de atuação da Psicologia e do seu potencial para o desenvolvimento humano.
“O mais fascinante é a possibilidade de trabalhar com a comunidade e sempre em equipa.”
Quando é que percebeu que estava inclinada para a área da Psicologia da Educação?
No final do terceiro ano, tínhamos de optar por áreas de especialização e foi aí que escolhi a área da Educação. Certamente influenciada pelo facto da minha mãe ser professora do 1º ciclo e pelo meu gosto pela escola e por aprender. Sempre convivi muito com as preocupações da educação e da aprendizagem. Como desenhar planos, organizar aulas e atividades pedagógicas que respondam às particularidades e necessidades dos nossos estudantes? Ter escolhido a área da Educação na licenciatura acabou por ser, assim, uma decisão fácil e natural, ainda que tenha sido muito pensada e deliberada.
Foi psicóloga escolar. Em que é que consistia o seu trabalho?
Na minha experiência enquanto Psicóloga Escolar e da Educação, procurei sempre trabalhar de forma articulada com professores e pais para chegar aos alunos, muito numa lógica de intervenção indireta e pensada para e no grupo e na comunidade. Enquanto psicóloga escolar, procurei mais uma intervenção promocional e não tanto uma intervenção remediativa, como, por exemplo, com programas de orientação vocacional ou programas de promoção de competências de leitura e de escrita. Para mim, o mais fascinante é a possibilidade de trabalhar com a comunidade e sempre em equipa. As iniciativas para os estudantes eram desenvolvidas com os professores. Por exemplo, nos programas de Orientação Vocacional, eu dinamizava as sessões com alunos, mas, para além disso, criava manuais e mobilizava os professores para eles também trabalharem aquelas competências. É muito importante que se crie convergência nas ações e isso só é possível com o trabalho de equipa.
O que é que a fascina na área da Educação?
Eu acredito muito no potencial do outro. Acho que o fascínio é este. O potencial do outro é o que me move. O que posso eu fazer para o outro crescer? O que posso fazer para que o outro eleve e concretize o seu potencial? São estas questões que me acompanham permanentemente. Quando escolhi trabalhar na área da Psicologia da Educação, eu estava a escolher trabalhar pelo desenvolvimento das pessoas. É por acreditar tanto no potencial das pessoas que o meu trabalho passa por idealizar contextos e ambientes de aprendizagem que potenciem ao máximo o potencial de cada estudante, aquela “luz única” que cada um traz consigo.
“Eu gosto do caos que pode ser uma sala de aula.”
É doutorada em Ciências da Educação, na especialidade de Psicologia da Educação. Porquê seguir para o doutoramento?
Mesmo depois de ter começado a trabalhar, mantive-me integrada num grupo de investigação da Universidade do Minho, por isso estive sempre ligada à academia. A ideia do doutoramento não surge propriamente pela vontade de seguir a vida académica, mas sim pelo meu gosto por investigar e por querer muito continuar a aprender. Aliás, lembro-me de pensar que depois do doutoramento iria voltar a trabalhar numa Escola e até cheguei a ter ideias de criar a minha empresa
Como é que vem parar à Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica?
A Universidade Católica surge na minha vida por ser para mim uma instituição de referência na área da Educação e da Psicologia. Tudo surge de um e-mail que enviei ao diretor da faculdade na altura a apresentar-me e a dizer que gostava muito de dar o meu contributo e de poder participar nas dinâmicas da Universidade. Deste e-mail resultou uma proposta de entrevista. Isto aconteceu em 2018 e cá estou eu…
Acabou por descobrir que também tinha vocação para a docência?
De certa forma, no trabalho enquanto Psicóloga Escolar, procurei sempre desenvolver iniciativas e ações de capacitação e formação, para a partilha de conhecimento e para a promoção de boas práticas. Por isso, quando comecei a dar aulas, senti-me bem dentro deste papel enquanto docente. Havia já um gosto, uma naturalidade, experiência e muito entusiasmo por o fazer. Não sei se lhe posso chamar vocação, mas há aqui uma esta predisposição para esta missão de ensinar. Eu gosto do caos que pode ser uma sala de aula. Gosto da imprevisibilidade.
“A nossa investigação serve sempre alguma coisa, há sempre um propósito.”
O que é que mais marca os estudantes de Ciências da Educação da FEP?
Quando nós ouvimos os nossos estudantes, mestrandos e doutorandos, a falar das Ciências da Educação na Católica, percebemos que eles aqui se sentem verdadeiramente acolhidos. Os nossos estudantes sentem-se parte de um grupo, de uma equipa e vestem todos a camisola. No âmbito da avaliação da nossa oferta formativa, através da organização de focus-group e de outros meios de recolha da avaliação dos nossos alunos, foi curioso perceber que o cuidado, o acolhimento e a proximidade são das coisas que mais marca o percurso académicos dos nossos estudantes. Isto é uma marca da Católica. Melhor, não é só uma imagem, mas sim uma prática efetiva.
O que é que caracteriza a Investigação da FEP ao nível das Ciências da Educação?
Temos uma longa história e tradição no trabalho para e com a comunidade. É impossível não falar do nosso Serviço de Apoio à Melhoria da Educação, que tem uma herança muito forte e uma proximidade grande na articulação com as escolas, através do trabalho de consultadoria educativa, mas também de investigações customizadas, desenhadas para cada escola/instituição. A nossa investigação serve sempre alguma coisa, há sempre um propósito. O mesmo procuramos fazer no CLIL, uma investigação com propósito, mais orientada para as práticas pedagógicas efetivas e modelos curriculares que já desenvolvemos, mas também aqueles que gostaríamos de vir a implementar na Universidade.
Ainda sobre o CLIL, em que é que consiste a sua atividade?
Mapeamos e identificamos aquilo que já fazemos na Universidade Católica Portuguesa. Fazemos coisas muito interessantes, projetos de elevado impacto, práticas inovadoras, só que tendemos a fazer tudo isto muito isoladamente. Portanto, estou na minha caixinha, na minha disciplina, na minha faculdade, faço isto e ninguém sabe. Isto acontece com muita frequência. E depois está outra professora do outro lado da porta a iniciar aquele processo sozinha, isolada que, depois, até pode vir desistir porque parece tudo demasiado complexo. Mas se estas duas pessoas se juntarem irão perceber que já há caminho percorrido, irão partilhar conhecimento e com o contributo de cada uma irão enriquecer ainda mais as suas práticas. Todos ganham! No CLIL, procuramos identificar essas práticas e quem as implementa. Procuramos juntar estas pessoas, para que possam trabalhar em conjunto e daqui resultarem grupos e equipas de trabalho (comunidades) com resultados completamente inesperados e surpreendentes. Esta partilha de experiências pedagógicas na comunidade UCP é uma alavanca muito grande para a inovação e transformação e é uma forma de, proactivamente, irmos contra a resistência à mudança. O CLIL nasce desta vontade da comunidade e de uma preocupação partilhada com o ensinar bem, com o educar bem, colocando o estudante no centro deste processo.
“Queremos aprender com os melhores e queremos partilhar o que já tão bem fazemos dentro de portas.”
Próximas metas traçadas para o CLIL?
Nós começamos no Porto e rapidamente passamos a ser um projeto da Universidade. Agora, queremos muito criar sinergias com as outras instituições de ensino superior. Este caminho já está a ser percorrido. Temos, também, a motivação para integrar redes internacionais. Queremos trabalhar estas dinâmicas com Universidades de outros países. Queremos aprender com os melhores e queremos partilhar o que já tão bem fazemos dentro de portas.
O que gosta de fazer nos tempos livres?
Gosto de correr! Também gosto muito de “sossegar”, de fazer nada. É importante pararmos. A verdade é que é nesses momentos de tranquilidade que surgem novas ideias. É nestes momentos que damos oportunidade ao nosso próprio potencial para crescer.
Pessoas em Destaque é uma rubrica de entrevistas da Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional do Porto.