Um estudo liderado pelo Centro de Investigação para o Desenvolvimento Humano (CEDH), da Faculdade de Educação e Psicologia (FEP) da Universidade Católica Portuguesa, concluiu que a Internet das Coisas pode ser usada, em contexto de aula, para promover as aprendizagens dos estudantes do ensino superior, ao tornar o processo de aprendizagem mais integrado, significativo, interdisciplinar e próximo do mundo real.
No contexto da Educação, a Internet das Coisas (Internet of Things, IoT, no acrónimo inglês) designa a ligação de objetos ou dispositivos do dia a dia aos contextos de aprendizagem, através da Internet, possibilitando a recolha, a análise e a interpretação de dados reais.
Falamos, por exemplo, de sensores que medem a temperatura (entre outras grandezas físicas e químicas) da água, da terra e do ar e até mesmo indicadores de seres humanos, e que enviam os dados recolhidos para uma nuvem central que armazena a informação e a coloca à disposição de professores e alunos.
Com a investigação “SOLL as an Auxiliary Teaching and Learning Tool – Case Study in Higher Education” procurou-se compreender se a utilização de dispositivos ligados à Internet, em contexto de aula, promove uma melhor experiência de aprendizagem nos estudantes do ensino superior e se favorece o cruzamento interdisciplinar.
Para levar a cabo este propósito, o estudo contou com a participação de uma amostra de alunos da licenciatura em Bioengenharia, da Escola Superior de Biotecnologia, da Universidade Católica Portuguesa (Centro Regional do Porto), que testaram a utilização de um dispositivo IoT em contexto de aula. Os estudantes avaliaram depois a sua experiência com esta metodologia, indicando se a acharam adequada para os objetivos de aprendizagem definidos.
Uma experiência de aprendizagem “inovadora, intuitiva, prática e versátil”
Os alunos construíram um dispositivo eletrónico para monitorizar, em tempo real, sinais vitais, como o batimento cardíaco e o nível de oxigénio no sangue, em doentes acamados e com necessidade de internamento. Os dados recolhidos foram enviados para uma plataforma online, desenvolvida por Andreia Magalhães, e designada Smart Objects Linked to Learning (SOLL), para posterior análise em contexto de aula.
Mais de metade dos estudantes que participou na investigação indicou ser a primeira vez que estava a usar protótipos da Internet das Coisas em sala de aula. A maioria dos alunos considerou esta experiência de aprendizagem “inovadora, intuitiva, prática e versátil” e apreciou o facto de poder contactar com a realidade e com dados em tempo real. Grande parte considerou a plataforma SOLL “adequada” e “muito adequada” para os objetivos de aprendizagem definidos na unidade curricular.
“Uma das grandes conclusões é que a Internet das Coisas mobilizada para este contexto específico ativa e integra as aprendizagens dos estudantes e aumenta a possibilidade de estes aprenderem, trazendo a realidade para dentro da aula”, refere José Matias Alves, docente da FEP, investigador no CEDH, e um dos autores do trabalho.
“Os estudantes ficaram mais despertos, interessados no tema, empenhados e ativos, uma vez que, graças à tecnologia e a uma pedagogia da implicação e da participação, puderam contactar com a realidade do mundo externo e analisá-la em contexto de aula”, acrescenta.
Além disso, “a tecnologia permite personalizar mais as aprendizagens dos alunos, porque se pode parametrizar a recolha de dados”, indica.
Maior integração do conhecimento e diálogo interdisciplinar
Para Matias Alves, a Internet da Coisas “potencia também uma integração do conhecimento, permitindo um diálogo interdisciplinar.”
Os dados recolhidos pelos dispositivos eletrónicos podem ser trabalhados numa lógica interdisiciplinar, envolvendo várias disciplinas, como a biologia, a química, a física e a geografia.
“Os estudantes começam a perceber que a realidade só é segmentada por uma necessidade muitas vezes didática. Liga-se o que na lógica curricular está estruturalmente desligado e aumenta-se a probabilidade de os alunos olharem para os problemas na sua dimensão holística. Conseguem, assim, ver o sentido das coisas e aprendem a estabelecer conexões e interligações em todos os domínios”, acrescenta.
Em suma, a investigação concluiu que é benéfico integrar a Internet das Coisas numa estratégia pedagógica. A experiência com os estudantes da Escola de Biotecnologia pode ser replicada para outros contextos de ensino.
De sublinhar que a IoT pode ser enquadrada em metodologias de ensino-aprendizagem ativas, como a Aprendizagem Baseada em Projetos e a Aprendizagem Baseada em Problemas.
O trabalho é assinado por Andreia Magalhães (CEDH), António Andrade (Centro de Estudos em Gestão e Economia, UCP), José Matias Alves (CEDH), Pedro Miguel Rodrigues (CBQF) e Patrícia Batista (Human Neurobehavioral Laboratory - HNL/CEDH).