Entrevista com Mafalda Parente, estudante do 3.º ano da Licenciatura em Psicologia da FEP-UCP
Na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa (FEP-UCP), o compromisso dos estudantes vai muito além das salas de aula. Vários envolvem-se em projetos extracurriculares que procuram gerar impacto social real, aplicando os conhecimentos adquiridos em contextos que transformam comunidades. A Mafalda Parente é um desses exemplos. Estudante do 3.º ano da Licenciatura em Psicologia, integra a associação Finance4Youth, que promove a literacia financeira junto de crianças e jovens, ajudando-os a desenvolver uma relação mais saudável e consciente com o dinheiro. Nesta conversa, a Mafalda partilha como a psicologia e a literacia financeira se cruzam e de que forma tem contribuído para levar este tema, muitas vezes visto como técnico, às escolas, de forma simples e envolvente.
Como surgiu o seu envolvimento na associação Finance4Youth e quais são os principais objetivos da vossa atuação?
Entrei na Finance4Youth em 2025, no Departamento de Educação e Formação, e tem sido uma experiência super enriquecedora. A associação tem como grande missão promover a literacia financeira de jovens para jovens, aproximando temas como poupança, investimento, planeamento financeiro e consumo consciente de forma simples e prática. Acreditamos que a educação financeira é essencial para a autonomia e o bem-estar das pessoas e devia ser ensinada desde cedo, tal como qualquer outra competência de vida.
No meu caso, participo sobretudo na preparação e dinamização de formações em escolas. Queremos mostrar que literacia financeira não é só “falar de números”, mas sim aprender a tomar decisões mais conscientes, equilibradas e alinhadas com os nossos objetivos.
A psicologia e a literacia financeira parecem áreas distintas. Como as conjuga nas atividades que desenvolve?
A ligação entre as duas é o que mais me fascina neste projeto. A forma como lidamos com o dinheiro está cheia de componentes emocionais e comportamentais, como o medo de perder, a ansiedade com o futuro e a tendência para gastar por impulso. A psicologia ajuda-nos a perceber o que está por trás dessas decisões e a criar estratégias mais eficazes.
Nas sessões, falamos muito sobre hábitos financeiros, influência social e autoestima. São fatores que afetam diretamente a forma como gerimos o dinheiro. No fundo, mudar comportamentos financeiros não é apenas fazer um orçamento, é também trabalhar a relação emocional que temos com o dinheiro.
Decisões financeiras: entre a razão e a emoção
De que forma a psicologia influencia as nossas decisões financeiras?
Influencia praticamente todas. Mesmo quando achamos que estamos a ser racionais, há sempre um lado emocional por trás. Compramos para nos sentirmos melhor, adiamos decisões por medo e repetimos padrões aprendidos na infância, com base na forma como os nossos pais lidavam com o dinheiro.
As emoções e o contexto social têm um peso enorme. Podemos ser demasiado otimistas, deixar-nos influenciar por comparações e acabar por gastar mais do que devíamos. A psicologia ajuda-nos a reconhecer essas tendências e a construir uma relação mais equilibrada com o dinheiro, o que é essencial para o bem-estar financeiro e emocional.
Que tipo de iniciativas têm promovido nas escolas e qual tem sido o impacto junto dos alunos?
As ações nas escolas são, sem dúvida, uma das partes mais significativas da experiência. Criamos sessões interativas sobre temas como gestão do dinheiro, poupança, consumo responsável e planeamento financeiro. Adaptamos sempre o conteúdo à idade dos alunos, com exemplos práticos, jogos e desafios.
O impacto tem sido muito positivo. Muitos dizem que nunca tinham pensado sobre como gastam o dinheiro e que vão começar a gerir melhor as mesadas. É incrível ver como conseguimos despertar interesse por um tema que, à partida, podia parecer aborrecido e distante.
Há alguma experiência marcante que queira partilhar do seu percurso na associação?
Lembro-me bem da primeira sessão que dinamizei, numa turma do 4.º ano. Fizemos a pergunta: “Se eu te desse 10 euros agora, o que fazias?”. As respostas variaram desde “comprava um gelado” até “guardava no meu porquinho”. Essa simples questão abriu espaço para falar de escolhas, prioridades e poupança de forma divertida.
Durante a sessão, usei uma técnica curiosa para captar a atenção da turma: apaguei as luzes durante alguns segundos. Essa pausa criou surpresa e silêncio imediato. A partir daí, percebi a importância de adaptar a comunicação ao público. No fim, senti que eles tinham aprendido tanto sobre dinheiro quanto eu sobre como comunicar e ouvir.
Que competências considera essenciais para quem quer participar em projetos como este?
A mais importante é a vontade de aprender. Ninguém entra num projeto destes a saber tudo. Depois, destaco a comunicação, o trabalho em equipa e a empatia, porque estamos sempre a lidar com pessoas de diferentes idades e contextos. Também é fundamental ter espírito crítico e capacidade de adaptação, uma vez que projetos de impacto social exigem soluções criativas, resiliência e sair da zona de conforto. É isso que torna a experiência tão incrível.
“Arrisquem”: o conselho da Mafalda para os colegas
Que conselho deixa a outros estudantes da FEP-UCP que queiram envolver-se em projetos extracurriculares com impacto social?
Arrisquem. Mesmo que sintam que não têm experiência suficiente, é nestes projetos que mais crescemos. São oportunidades para aplicar o que aprendemos nas aulas, conhecer pessoas novas e perceber como a psicologia tem impacto real fora da universidade.
Além disso, estes projetos ajudam-nos a desenvolver competências que não aparecem no currículo, como a liderança, a empatia, a organização e o pensamento crítico. E, mais importante ainda, fazem-nos perceber o valor de contribuir para algo maior e de usar o nosso conhecimento para gerar uma mudança positiva, principalmente com crianças.



