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José Matias Alves “Sem tecto, entre ruínas”

Friday, November 20, 2020 - 13:35
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Público

Tenho 15 anos. De casa para a escola. Da escola para casa. Depois de longo tempo preso e sozinho em casa. Diariamente percorro o caminho de ida e volta. E vagueio à volta de mim, numa turbulência que nem sei bem a geografia. Ando no 10.° ano, mascarado, como todos. Humanidades. Numa turma de 28 alunos, onde mal cabemos. O meu colega de carteira está, praticamente em cima de mim (e eu dele). Quase olhamos para o lado para que o bicho não interfira na respiração comum. Nos intervalos que foram agora reduzidos temos de ficar, a maioria das vezes, lá dentro. Que não se pode vir ao recreio, que não nos podemos misturar por causa do vírus. E que temos de seguir a carreirinha das setas. Todos em filas. Todos na distância social, agora física, mas apenas fora das salas, porque lá dentro estamos a 50 cm. E que não podemos quase falar porque temos de estar a dois metros e de máscara. Mas ao fim de oito horas, ninguém aguenta viver assim. Este é um tempo insuportável de distância e de solidão. É certo que nós queríamos regressar à escola, ao convívio dos amigos e colegas e ao contacto dos professores. Porque não aguentávamos mais a prisão da casa. Mas tem de haver limites.

Nas aulas, o professor de Filosofia diz que a educação é a alavanca do progresso social, da emancipação do homem, que é o investimento certo para o futuro, que é um “elevador social”, embora não tenha percebido bem e também ninguém perguntou. Agora o diálogo é muito mais difícil. Quase não nos entendemos com as barreiras das máscaras e a falta da expressão do rosto escondido.

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