Sabia que as crianças podem ter insónia e que os sintomas podem persistir na idade adulta?

Tuesday, April 23, 2024 - 16:56

A insónia caracteriza-se pela existência de dificuldades em iniciar, manter e retomar o sono. Afeta não só o funcionamento diário como impacta diversos aspetos da vida nomeadamente a nível social, comportamental, educacional-académico e profissional (Bruni & Angriman, 2015). Em crianças em idade pré-escolar, a insónia prejudica as funções executivas, tais como a atenção e o raciocínio, afetando o desenvolvimento cerebral e a saúde mental e física a longo prazo (Olivero et al., 2023). Na transição da infância para a adolescência, a taxa de persistência dos sintomas ocorre em 56% dos casos e apenas 30% consegue alcançar o fim dos sintomas. Na adolescência, em Portugal, Amaral e colaboradores (2014) evidenciaram que a prevalência da perturbação de insónia é de 8.3% nas idades dos 12 aos 18 anos, sendo notória, no entanto, sintomatologia desta natureza em 21.4% das pessoas.

São diversos os fatores que podem contribuir para o desenvolvimento dos sintomas de insónia. Os fatores de risco mais comuns são o temperamento difícil, o histórico de problemas de sono, o baixo peso ao nascer, o tabagismo materno e o baixo nível socioeconómico (Mindell & Williamson, 2018; Williamson et al., 2019). Atualmente, a utilização de dispositivos eletrónicos é um dos maiores inimigos de uma rotina de sono saudável, aumentando a ativação cognitiva e/ou inibindo a libertação de melatonina, o que se traduz na manutenção da vigília e evitamento do sono (Bartel et al., 2015).

Como forma de reduzir a probabilidade de desenvolver sintomas de insónia em crianças em idade pré-escolar, os pais devem implementar rotinas consistentes prévias ao sono e que potenciam a diminuição da vigília (Williamson et al, 2019), preparando a criança para o início do ciclo de sono.

O psicólogo poderá ter um papel significativo através da intervenção individual que permitirá o desenvolvimento e implementação de estratégias de higiene de sono, controlo de estímulos adversos ao ciclo de sono e outras estratégias cognitivas e comportamentais que surjam como relevantes na articulação com os pais e com a criança ou adolescente (Bootzin & Epstein, 2011). Quão mais precoce a sinalização e intervenção na insónia, melhor o prognóstico. Importa ter em conta que a infância e adolescência são fases de desenvolvimento fundamentais em termos de plasticidade cerebral, maturação do cérebro e imunidade (Yang et al., 2022). Mais especificamente, na adolescência fatores como o stress familiar, social e escolar podem ter um impacto significativo no desenvolvimento de sintomas de insónia.

Ana Carolina Ramísio, Cláudia Lima, Inês Franco, Maria Inês Faria, Mafalda Gomes, Oriana Cardoso | Alunas do Mestrado em Psicologia, Especialização em Psicologia Clínica e da Saúde, da Faculdade de Educação e Psicologia

 

Se quiser saber mais, leia os seguintes artigos….

Mindell, J. A., & Williamson, A. A. (2018). Benefits of a bedtime routine in young children: Sleep, development, and beyond. Sleep Medicine Reviews, 40, 93-108. https://doi.org/10.1016/j.smrv.2017.10.007

Oliviero, B., Grazia, M. M., Alice, E., Stefania, S., Marco, A., Marina, A., Barbara, C., & Raffaele, F. (2023). Executive functions in preschool children with chronic insomnia. Journal of Clinical Sleep Medicine, 16(2), 231–241. https://doi.org/10.5664/jcsm.8172

Williamson, A. A., Mindell, J. A., Hiscock, H., & Quach, J. (2019). Sleep problem trajectories and cumulative socio-ecological risks: Birth to school-age. The Journal of Pediatrics, 215, 229–237. https://doi.org/10.1016/j.jpeds.2019.07.055

Yang, Y., Liu X., Liu Z., Tein J., & Jian, C. (2022). Life stress, insomnia, and anxiety/depressive symptoms in adolescents: A three-wave longitudinal study. Journal of Affective Disorders, 322, 91-98. https://doi.org/10.1016/j.jad.2022.11.002

 


A Clínica Universitária de Psicologia (CUP) procura contribuir ativamente para a formação dos futuros psicólogos e também para aumentar a literacia em saúde mental na comunidade em geral. Neste sentido, foi desenvolvida uma iniciativa entre a CUP e os alunos do mestrado em psicologia na unidade curricular de Avaliação e Intervenção Clínica com Crianças e Adolescentes. Em articulação com a Prof.ª Alexandra Carneiro, docente da UC, os alunos produziram notícias sobre diversas perturbações psicológicas, baseadas na evidência científica, que serão disponibilizados no site da CUP. Esta iniciativa permitirá aumentar o conhecimento científico sobre problemas de saúde mental junto da comunidade. Boas leituras!

 

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